O caso Bosman: o início de uma nova era no futebol

Você conhece o caso de Jean-Marc Bosman? Embora poucos saibam sobre ele, trata-se de um precedente que marcou as bases do futebol que conhecemos atualmente.
O caso Bosman: o início de uma nova era no futebol

Última atualização: 16 setembro, 2019

Parece ridículo pensar que o futebol europeu atual, cheio de estrelas internacionais e com contratos multimilionários, deva muito do seu sucesso a um jogador belga que fazia parte de um clube modesto do seu país nos anos 90. No entanto, esse é exatamente o caso. Conheça a história de Jean-Marc Bosman.

Quem foi Jean-Marc Bosman?

Bosman foi um jogador belga que passou por vários clubes do seu país durante a sua carreira. Os seus passos esportivos mais importantes foram no Standard Liège, uma das equipes mais populares da Bélgica, e na seleção nacional.

No entanto, em 1990, esse homem daria um passo em direção à fama que ele nunca havia imaginado. Embora a sua situação tenha criado um antes e um depois na história do futebol mundial, as coisas não se resolveram a seu favor em sua vida pessoal.

Seu conflito

Em meados da década de 90, quando a temporada de futebol terminou, Jean-Marc Bosman encerrou o seu contrato com o clube RFC Liège.

Embora tenham oferecido a renovação do seu vínculo, o jogador descartou a opção por considerá-la financeiramente insuficiente. Portanto, ele precisava procurar um clube para a temporada seguinte.

Nesse momento, surge em cena o USL Dunkerque, da segunda divisão da França. Bosman estava disposto a assinar com essa instituição, mas havia um problema: não houve um acordo entre Dunkerque e RFC Liège.

Naquela época, a rescisão do contrato não implicava no fim do vínculo jogador com o clube, então Bosman precisava da aprovação do RFC Liège para sair. Como isso não aconteceu, ele teve que permanecer na Bélgica, apesar de ficar afastado da equipe profissional.

O caso Bosman: resolução e consequências

Foi assim que Bosman iniciou um processo contra a Federação Belga de Futebol, a UEFA e até mesmo a FIFA. Ele alegou que as regras dessas entidades violavam o direito de circulação dos trabalhadores europeus nos países da União Europeia. O Tratado de Roma – assinado em 1956 – apoiava essa posição.

O caso Bosman: o início de uma nova era no futebol

Imagem: alloutfootball.co.uk

Liberdade do jogador ao fim do contrato

Em dezembro de 1996 – seis anos após o início da ação – o Tribunal de Justiça da União Europeia deu o seu veredicto sobre o caso Bosman. O Tribunal decidiu que o jogador tinha motivos válidos para o seu pedido: o clube não tinha mais o poder de decidir, uma vez que o vínculo com o jogador tinha terminado.

Foi um avanço muito importante em termos de direitos para os jogadores de futebol. Com essa nova lei, os abusos dos clubes seriam evitados e uma posição muito mais forte foi alcançada para negociar os novos contratos no futuro. Em outras palavras, os jogadores deixaram de ser reféns dos clubes.

Contratação de europeus sem limitações

Além de afetar a relação contratual, o Tribunal também decidiu que as federações esportivas ou associações internacionais não poderiam restringir a circulação de trabalhadores europeus dentro da UE.

Dessa maneira, o futebol europeu sofreu uma mudança sem precedentes: de 4 estrangeiros por time – dos quais apenas 3 poderiam estar em campo simultaneamente – passava-se agora para a mesma limitação, mas apenas para os jogadores de fora da UE.

As contratações aumentaram gradualmente até atingir as centenas de transferências que vemos com frequência atualmente.

O triste fim de Bosman

O que se pode concluir de todo esse episódio é que a situação de muitos jogadores que têm sucesso na Europa se deve em grande parte a esse jogador que decidiu lutar pelos seus direitos. Até aquele momento, ninguém havia se atrevido a fazer uma coisa dessas.

O caso Bosman: resolução e consequências

Imagem: Sunday Post.

No entanto, tudo tem o seu preço: Bosman empoderou os atletas como ninguém, mas isso custou a ele a exclusão total do sistema. Desde o início do conflito, nenhum clube o contratou.

Além disso, os 280 mil euros que ele recebeu como compensação depois de chegar ao acordo judicial foram rapidamente dilapidados. Ele estava perturbado e caiu no alcoolismo.

Assim, sobrevivendo com uma aposentadoria mínima, ele foi condenado a um ano de prisão em 2013, por agredir a esposa e a filha.

Em suma, a história tem duas faces. Por um lado, a de um homem corajoso que se rebelou e lutou pelo que era dele e criou um ótimo precedente. Por outro, um homem que sofreu por isso e caiu no esquecimento. No entanto, o nome de Jean-Marc Bosman nunca será apagado da história do futebol.


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